quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Quotidien Trem-Bala

China pretende bancar trem-bala Curitiba–São Paulo

Em maio, o Ministério dos Transportes anunciou que Curitiba faria parte do Plano Nacional de Viação. O trem-bala vai ligar Curitiba a Belo Horizonte, com escala em São Paulo. Dois anos antes do anúncio oficial do governo, 40 engenheiros do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) planejavam a construção desse transporte no trecho entre as capitais do Paraná e de São Paulo. O coordenador do Banco de Idéias do IEP, engenheiro Jurimar Cavichiolo, apresentou o projeto do trem durante o Encontro de Engenharia, promovido pelo Centro Universitário FAE na última quinta e sexta-feiras. De acordo com Cavichiolo, o percurso será cumprido em uma hora e 40 minutos, com um valor de passagem na faixa dos R$ 150. A China demonstrou interesse na execução e manutenção do transporte. Confira os principais pontos da entrevista.

Qual será o percurso do trem-bala?

O IEP planejou a viabilidade apenas da distância entre Curitiba e São Paulo. Foram estudadas três alternativas: Curitiba–Ponta Grossa–São Paulo, Curitiba–Cerro Azul–São Paulo e Curitiba–Registro–São Paulo. A terceira alternativa é mais viável, com uma extensão de 360 quilômetros.

Como serão estruturadas as viagens?

O trem-bala viajará das 6 às 22 horas. Serão 17 saídas ao longo do dia, carregando 400 passageiros ou 17 toneladas de carga por eixo, a uma velocidade de 300 quilômetros por hora.

Quais as chances do projeto do IEP ser escolhido para realizar o trecho Curitiba–São Paulo?

Já houve contatos com o Ministério dos Transportes. E o nosso projeto está plenamente viabilizado. Há, apenas, um processo de aprovação no Ibama sobre os impactos ao meio ambiente. É uma idéia idônea e que tem a moral para ser tirada do papel. Acredito também que esse projeto é a melhor solução.

Há demanda para um projeto desse porte?

Se não houver demanda, esse é o tipo de projeto que deve ser abandonado. Há, no entanto, uma necessidade de transportar passageiros e cargas em todo o Brasil. Nós já estudamos os detalhes. Para que não haja ociosidade da linha, os trens podem sair de 15 em 15 minutos sem qualquer limitação. Por exemplo, uma carga de passageiros a cada hora. E o resto dos veículos portando carga.

O trem-bala é sustentável?

O projeto custa US$ 6 bilhões, executados em três ou quatro anos. Com o início da arrecadação, o retorno do capital se daria em 25 anos, com lucro de 11,75% por ano. É altamente rentável.

Que tipo de financiamento pode ser feito para o projeto?

O Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) estudou algumas formas. Pode ser realizado em parceria entre o governo federal e empresas privadas. E até a China tem interesse em bancar o projeto desde o início, incluindo a execução e manutenção. É preciso um encontro de forças políticas para viabilizar algo dessa grandeza.

Qual o benefício do trem-bala para os aeroportos?

Existe um levantamento estatístico na Europa de que 75% da população prefere o trem-bala ao avião. No Rio de Janeiro, em uma pesquisa do Ibope, o porcentual foi de 86%. É um veículo seguro, independente de intempéries e preciso no horário. Essa tecnologia existe desde 1964 no Japão. E desde 1981 na França. E nunca ocorreu um acidente sequer. Os aviões ficarão responsáveis pelas viagens mais longas, diminuindo o fluxo desnecessário nos aeroportos.

Qual a segurança do veículo?

Desde a inauguração, no Japão, nunca houve um acidente. São praticamente 45 anos sem qualquer problema. Ele usa uma tecnologia bastante desenvolvida. Não há passagens de linha: ou passa por cima ou por baixo. E é totalmente cercado. O sistema é tão desenvolvido que o maquinista sabe o que está ocorrendo 10 quilômetros à frente. Se houver uma interrupção, ele simplesmente freia e, em três ou quatro quilômetros, o trem pára. Os demais veículos recebem o contato e também param, evitando acidentes. No Japão, a precisão é absurda. De três em três minutos, um novo veículo segue viagem.

A construção do trem-bala se caracteriza como um retorno ao uso das ferrovias?

O Brasil já teve 35 mil quilômetros de ferrovias. Atualmente, existem só 21 mil. O trem-bala resolve o problema de transporte em distâncias que variam de de 500 a 1,5 mil quilômetros. O Brasil precisa transportar as cargas em ferrovias. Uma estatística mostra como o transporte rodoviário pode ser caro. Se, por exemplo, o valor de uma carga na hidrovia é de R$ 1, na ferrovia, será de R$ 4. E, nas rodovias, de R$ 8. O Brasil apostou no modal de transporte mais caro. Essa volta às ferrovias é essencial, porque nem todo transporte pode ser feito pelos rios. O trem bala Rio–São Paulo–Campinas já deveria estar pronto.

Qual a importância dessas linhas para o desenvolvimento do Brasil?

Em síntese, o trem-bala melhora a qualidade de vida da população.


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